Antes via paisagens
pela janela
só vejo janelas agora
quanto tempo se passou desde a última vez?
anos,
décadas?
a
decadência de se começar de novo
do
zero
Isso
não é novo
nem de
novo
nem
repentino
O
começo mesmo
um
grande zero
serpente
engolindo o próprio rabo
traz
marca do eterno
Seus
olhos brilham
seu corpo serpenteia...
–
Já vem você com esse papo piegas
– Cala
essa boca dentada!
Um
grande zero, um nada
sem
paisagens na janela
apenas
janelas
também
elas gradeadas
como
esta
meio
de frente
meio
de quina
Olham
de lá pra cá e pensam o mesmo?
Pensam
o zero do eterno recomeço
pra
isso
de
novo?
Vejo
uma ponta de romanzeira
com
vontade de ar
bailante
suas
folhas são pequenas
milésimas
infinitas
ligeiras
delicadas
asinhas
verdes desprendendo
de si
mesmas e dos galhos
que
entrelaçados fazem grade
só
vejo isso
e
janelas quadradas
Se
ainda fossem outras
redondas,
maluconas e coloidais retorcidas
não
seriam janelas
essas
janelas
minhas
janelas!
Antes
via paisagens, me via nelas
um
rotacionar de zero
movimento
pra
frente
tolice
Tinha
menos pêlos e experiência
mas
tinha um “à frente”
tinha
mesmo algo de seguro
o
primeiro passo
tolice
Uma
matrona dada
a gulodices compartilhadas
a quem
chamava de vó
apenas
isso “vó”
sílaba
só
nem
palavra
por
direito
sílaba
só
e era
mesmo só
esta “vó”!
Tanta
segurança
um “à
frente”
justo
Hoje
só janelas
e esse
grande zero
multisignificado
supersignificado
inquietantemente
significado
Porra!
Esse
quarto-cativeiro
Uma
mochilona de roupas amarrotadas,
tecnologia e uma
cabeça redonda
cheia de idéias amarrotadas feito mochilona
uma
cabeça de mochilona
enfiada
em dois braços
duas
pernas que sabem(?)
vagabundear
Se não
fosse o zero
caminharia
mas
também sem ele não seria
pelo
menos é redondo
e não
quadrado como janelas
essas
que vejo e antes não via
quando
não tinha mochila
nem
musculossatura
nem
coragem de caminhar
grandes
distâncias
– Cara, algo se debilita no HOMEM
E em
mim
o coração,
meu chapa
caminha
demais
acelera
demais
treme
demais
é
músculo também
o
coração treme
mesmo
vagabundo!
Na
cama ele treme
e quer
tudo cama
uma
vida de cama
uma
vida nua de cama
com
paisagens nuas
corpo
de mulher
montanha-quadril
queeeeeeer
aprendeeeeeer a caminhaaaaar, porra!
sobre
esses relevos
e se
perder(?)
Cativo,
eram
essas paisagens que via
quando
ainda não via só janelas?
Saudades
não tinha ainda
essas
crias, filhotes maltratados
deixados
na rua da amargura
com
roupinhas doadas, sem dignidade
sem
manequim nem nada
crias
de janelas e grades
essas
que são minhas
dadas
a meus olhos de tato
e que
não eram
...antes
Uma
vez dadas
her
dadas
nunca paisagem
(verde
ou azul ou mole ou dura)
cores
de paisagem!
nem
sequer com a mochilona cheia de troço
prestes
a zarpar
se não
fosse o zero
se não
fosse
“Antes”
quer dizer aqui outrora?
É o tempo?
– Nao me venha falar desse filho-da-puta!
– Shhhhh
Prefiro e quero meu zero
metacavidade atual
sem “à frente”
sem afronta
sem ruído
e sem pressão no cerebelo
nem nos pulmões
somente
folhinhas de romanzeira vistas de relance
e que
nem fazem paisagem
coitada
fodida
uma
paisagem de meia-tigela
graciosas
folhinhas verdes
E essa
cama de solteiro, sem lençol, nua?
sem
paisagens afundadas & fundidas
pelo
cansaço de uma foda
ou de
uma bebedeira
ou de
um afago besta
ou da
respiração cruzada
de
corpos amaciados que não se tocam
mas se
amam à distância
como
respiro ventoso de praia
land
scape
Corpo-paisagem
sem
grades
nu
Nu que
nada! nudez é nao amar!
[amar
ou amor, tanto faz(?)]
É não
vestir-se de paisagens
não
ter lençóis mantas crostas
profundidades
superfícies poros
sedimentar
retesar inundar
vagabundear
por vales peludos púbicos
e
ossos-levadiços
pontiagudosaaaaahhhhhhhhhrrrrrrrrrr
(afásico/interino/replicante)
–
Amor faz um carinho?
pedido
de quem olha pela janela
e só
ve janelas
nunca
paisagens
por
isso não pede
com
sílaba só
não
saberia
escuta
bem, meu amor
e cala
esses dentes quadriláteros:
rabo
na boca,
infinito
amor é zero
Renan Rodrigues
Renan Rodrigues
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