segunda-feira, 7 de julho de 2014

Vertical (paideia daemonica)


Vertical (paideia daemonica)


Por sobre os estreitos ombros olha o pequeno
Atrás, fixa e longamente
Adiante, reticente

Sente medo, aperta os olhos, lábios fremidos
Ao pai, no coração, indaga
Por que não vejo nada?

Abre os olhos, peito tendido, pernas moles
Olha a frente, se reconhece idoso
Em revés, surge moço

Sente ódio, torce os olhos, dentes crispados
Ao pai, nos punhos, faz-se ouvir
A felicidade é voltar ou ir?

Sente paz, lava os olhos, semblante fresco
A si, no corpo todo, não mais réu
Mira-se, dos pés até o céu

Sorri!


Renan Rodrigues, 07 de julho de 2014

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Reencontros (paideia erotica)


Reencontros (paideia erotica)


Tomando assento rente à beira
Um Eros branco acena com um sorriso.
Sorri em mim, no corpo todo, todo brando,
Sinais esquecidos, ressecados num canto.

Sorri, e ouço dizer “leia”. “Ouça”, é o que leio
Neste sorriso enviado numa brisa eriçadeira.

“O Cante que tem por terra sua pátria, mas
Que é dado ao correr de um fluxo livre e solto
Um rio tranquilo que vai, por cima, a tanger
Sonidos cristalinos, nas margens do teu corpo”

Eros fecha os olhos e cessa de sorrir
Sinto tocar-me os pés uma terra, e lavar-me no peito
Águas claras, fibrosas torrentes, superfície-cio,
O toque macio da pele úmida e a nudez morna do rio.

Sorri, e sinto dizer “Sinta”. “Sinto” é o que digo
Neste sorriso, feito meu, embebido na umidade divina.

“Embala-te aí, neste baile, fluir contínuo e sem data,
Pois que de tempo é feito o desejo, e de rio encontros.
Até o esfacelo das areias e o turbilhonar do líquido,
Retesa-te e faz-te homem, no rasteiro dos reencontros"

Renan Rodrigues, 04 de julho de 2014